A Ausência


Eu deixarei...
Que morra em mim o desejo de amar...
Os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar...
Senão a mágoa de me veres...
Eternamente exausto.
No entanto a tua presença é...
Qualquer coisa...
Como a luz e a vida.
E eu sinto que em meu gesto...
Existe o teu gesto...
E em minha voz a tua voz.
Não te quero ter...
Porque em meu ser....
Tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim...
Como a fé nos desesperados
Para que eu possa...
Levar uma gota de orvalho...
Nesta terra amaldiçoada...
Que ficou sobre a minha carne...
Como nódoa do passado.
Eu deixarei...
Tu irás e encostarás a tua face...
Em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos...
E tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás...
Que quem te colheu...
Fui eu, porque eu fui...
O grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face...
Na face da noite...
E ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram...
Os dedos da névoa que estão...
Suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência...
Do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
Do vento, Do céu,
Das aves,
Das estrelas.
Serão a tua voz presente,
A tua voz ausente,
A tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes
(Fonte: blogger: http://pedacosd1vida.blogspot.com/)

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