O sufocante desejo carnal


O sufocante desejo carnal

            Um leve aperto no peito, que parece tirar o fôlego, procurando afogar-nos como se estivéssemos no mar. Ao ver e sentir as ondas castigarem o corpo. Solto como a pluma, sem sustentação, perfeita bóia.
Que no incremento toma conta de nós, o seu estranho alvitre, é a sua transformação num vazio, mesmo pressentindo que continua lá. Enraizando suas presas no recôndito, no âmago...

         Talvez, seria melhor ignorá-lo, mas, nos tortura na masmorra de suas fantasias oníricas... Insólita sensação de desamparo e repugnância, sensação sufocante.  Tartamudeia-se: – Estamos sem ar! Estamos se ar!

       Entre tantos pensamentos, algures nos vem à memória, em tentativas evasivas que procuram descortinar o além, o além das nossas visões e limitações. Pensamento debilitado e em total inanição, mas, que conseguiu atingir a parte mais bloqueada da nossa cognição, a memória, e nesta tal, indagamos: - Foi o desejo que me trouxe aqui? E agora, qual caminho me permitirá daqui sair?

           Enfrentamos um paradoxo, pois sendo débil a concepção que por certo o estigmatizou, consegue ser forte em sua eficácia, como uma gotícula existente em um ferrão de abelha: - Dói demais, não por causa da quantidade, mas, pela qualidade subjetiva e cumulativa dos neurotransmissores na fenda sináptica.

         A seu alivio não depende, de realizações prolixas, mas de uma entrega alienada de razões. Quando percebemos, sua chaga, já nos dominou e lançando-nos ao chão, faz que venhamos mendigar por lucidez e por explicações de como chegamos naquele estado, sempre, sempre.

         “Desejamos ser o que pensamos... Pensamos ser tantas coisas... Nem mesmo sabemos o que somos! Como desejar  aquilo que não decidimos que seremos?”
Desejamos estudar... Quando chegamos lá, percebemos o caminho, dominamos as estratégias, pelo desejo afinado de um objetivo sem alvo, e quando percebemos, estamos tão perto do ponto que nos estimulou a chegar, que nos confundimos com ele, perfeitos mimetismos, e somos alvejados pelos dardos de outros que o almejaram.

       Nossos desejos se confundem com o de outros, e se torna como uma depreciada alvíssara que ninguém dar valor. Que ninguém desperta coragem para disputá-la com os porcos.

Buscam-se talentos em baús alheios. Desejos que se avolumam, e se confundem como autênticos e nobres, por pessoas que procuram vestimentas, veladas de beleza e pompa. Quando nos faltam objetivos, os de outros nos são favoráveis mesmo que insossos. Vemos uma nuvem de ideais plagiados que não despertam o menor fulgor.

O desejo...  Cumpre-se na prisão que todos admiram e compram com suas incestuosas palavras.

Desejamos comprar... Com o pão de dores que endurecem e emboloram-se nas prateleiras das opções. Não desejamos matar a fome, mas, matar o desejo que originou a fome. Pois assim poderemos comprar, sem os empecilhos da fome. Compramos apressuradamente para que a fome chegue atrasado. Compramos por causa do desejo de comprar o que a fome não pode matar... E se matar, compramos, mesmo sem desejar.

        Esse desejo carnal é muito mais forte que o abastado espancando o desvalido sentimento de derrota... Que amarrota e transtorna, e nos faz sentir mal. Desejo carnal, de uma carne contaminada por desejos psico-sócio-histórico de Vygotski.

        Desejamos nos entregar... Para quem não nos molestará, e nem nos possuirá com blandícias e falácias orquestradas num mundo em que seus possuidores, não entendem o que são, mentem de onde vieram e fantasiam para onde vão. O desejo de se entregar desnorteia nossas mentes, pois, seus efeitos benéficos são válidos por um momento, como àquele que vislumbra por uma fenda o que deseja o seu ser e contentando-se com àquilo que observam, isto nos é vedado por um estipêndio oneroso.

Desejamos o desejo que algures o buscou e nenhures encontrou... Seria, entretanto uma afronta para os piratas da ilusão...

Wagner Barros de Jesus

 

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