Behaviorismo Radical - Análise do Comportamento

Primórdios e fundamentos

O Comportamentalismo, como linha dentro da Psicologia, tem como objeto principal o estudo do comportamento. Nos seus primórdios, estudava os atos que podiam ser descritos de modo objetivo mediante a observação. Desde seu surgimento, o conceito de comportamento e as formas de observá-lo foram se modificando. O estudo do comportamento tem sido chamado de Behaviorismo com três tendências, a saber: Behaviorismo Cognitivo, Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical. O Behaviorismo Cognitivo pressupõe que existe uma relação entre o mundo, como ambiente externo ao indivíduo, que desencadeia neste pensamentos e sentimentos que irão determinar seu comportamento no ambiente. Ou seja, há uma mediação entre o ambiente e o comportamento dos indivíduos; esta mediação é a percepção e o significado atribuído por eles aos eventos ambientais. "O comportamento e afeio do indivíduo são largamente determinados pelo modo como ele estrutura o mundo, como olha para as coisas e como interpreta essas coisas" (Shinohara, 1997:3). O Behaviorismo Metodológico dá uma ênfase aos procedimentos de medida do comportamento na sua relação com o ambiente. Ficou conhecido como "Psicologia S-R", onde S operacionaliza o ambiente e R o comportamento (Matos, 1997:58). O Behaviorismo Radical afasta-se destas duas proposições anteriores ampliando a noção de comportamento e de ambiente: entende por comportamento as relações do organismo com o ambiente, expresso pela tríplice contingência de reforçamento. O ambiente em que se encontra o homem determina e constrói as características que serão particulares a cada um.
O presente capítulo analisará somente o Behaviorismo Radical, pois ele responde de maneira mais abrangente questões implicadas no estudo do comportamento apontadas pelas duas outras tendências, tais como a noção de mediação, o dualismo mente/pensamento e corpo, a causalidade do comportamento. É uma corrente que supera as questões epistemológicas e metodológicas colocadas no início da constituição desta linha teórica.
O Comportamentalismo/Behaviorismo surgiu nos Estados Unidos da América com John Broadus Watson (1878-1958), que se dedicou a fundar uma nova escola de pensamento para a Psicologia, oficialmente conhecida através da publicação Psychology as the Behaviorist Views it (Watson, 1913). No início do século XX, os Estados Unidos da América passavam por um processo semelhante ao europeu, com expansões agrícolas, comerciais e industriais, propiciando um ambiente favorável a críticas ao mentalismo como explicação e à introspecção como forma de obtenção de dados passíveis de análise do comportamento humano. Três tendências marcantes influenciaram sua proposta: a concepção filosófica do empirismo/objetivismo e do mecanicismo; a psicologia animal e a psicologia funcional (Schultz & Schultz, 1992).
Métodos experimentais já estavam sendo usados nos Estados Unidos da América através do funcionalismo de William James. Pesquisas sobre aprendizagem animal já geravam dados aplicáveis ao aprendizado humano. Watson acreditava que analisando determinados comportamentos dos animais seria possível compreender determinados comportamentos dos seres humanos. Suas críticas aos métodos de introspecção e à "antiga" Psicologia tiveram grande resultado. As pesquisas começaram a considerar os seres humanos de uma forma diferente da que estava sendo considerada antes. A Psicologia, para Watson, deveria ser a ciência do comportamento, um ramo experimental objetivo das ciências humanas. Descartaria todos os conceitos mentalistas, que postulavam que as causas das coisas e das ações humanas estavam na mente, e só usaria conceitos que pudessem ser operacional e objetivamente definidos como estímulo e resposta. A finalidade da Psicologia seria prever e controlar o comportamento.
"A Psicologia, tal como o behaviorista a vê, é um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural. A sua finalidade teórica é a previsão e o controle do comportamento. A introspecção não constitui parte essencial dos seus métodos e o valor científico dos seus dados não depende do fato de se prestarem a uma fácil interpretação em termos de consciência... a Psicologia terá que descartar qualquer referência à consciência... ela já não precisa iludir-se crendo que seu objeto de observação são os estados mentais" (Watson, 1913:158).

No início, o Comportamentalismo de Watson não havia sido alvo de muitas atenções, porém, a partir de 1920 aproximadamente, algumas universidades ofereciam curso sobre comportamentalismo, de modo que a palavra "comportamental" começava a aparecer. Com ele surge uma ciência do comportamento voltado para si mesmo, sem referir-se como recurso explicativo ao sistema nervoso ou seus mecanismos, como era feito pela fisiologia.
Watson vai utilizar como métodos de investigação em seu laboratório: a observação, com e sem o uso de instrumentos; os métodos de teste; o método do relato verbal e o método do reflexo condicionado. "Uma resposta, disse Watson, é condicionada quando se liga ou se conecta a um estímulo distinto do que a despertou originalmente" (Schultz & Schultz, 1992:247), este processo de conexão entre um estímulo e uma resposta específica de um organismo, chama-se reflexo condicionado.

O reflexo condicionado (Pavlov, 1927 e 1979), que já havia sido investigado por Pavlov (1849-1936) e Bechterev (1857-1927), anteriormente, vai ser agora visto como um excelente método para produzir relações entre as condições estimuladoras e as atividades dos indivíduos. Porém, o modelo pavloviano só será considerado quando permitir uma visão global do comportamento. Watson considera o sistema nervoso secundário e o comportamento indo além de uma atividade reflexa decorrente de estímulos fisiológicos ou condicionados. O reflexo condicionado, ou melhor, o processo de condicionamento passa a ser considerado uma unidade de medida do comportamento, pois permite identificar as relações ambiente versus comportamento, e decompor o comportamento humano em suas partes constituintes ou elementos, facilitando a observação e a mensuração.
Transcrição do Texto e obra de: Edna Maria Peters Kahhale

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