A Formação Social da Mente - Lev S. Vygotski
Vários estudiosos, ao mesmo tempo que
demonstram a inadequação da análise psicológica baseada na decomposição
mecânica das respostas em seus elementos componentes, defrontam-se se com o
problema de que suas análises introspectivas de reações complexas tenham que se
restringir à descrição: nesse caso, a descrição das respostas externas é
substituída pela descrição dos sentimentos internos. Ambos os casos
restringem-se à análise psicológica fenotípica.
A análise introspectiva, na qual
observadores altamente treinados são instruídos a notar todos os aspectos da
sua própria experiência consciente, não pode levar-nos muito longe. Um
resultado curioso desse tipo de trabalho, como Ach assinalou ao discutir os
estudos da reação de escolha, é a descoberta de que não há sentimentos
conscientes de escolha na reação de escolha (10). Titchener enfatizou que se
deve ter em mente o fato de que os nomes dados a uma reação complexa ou simples
(por exemplo, "diferenciação" ou "escolha") referem-se às
condições externas da tarefa. Nós não diferenciamos na reação de diferenciação
e nós não escolhemos na reação de escolha.
Esse tipo de análise rompe a identidade
entre os procedimentos experimentais e os processos psicológicos. Nomes de
processos como "escolher" e "diferenciar" são tratados como
resquícios de uma era anterior da psicologia, em que a experimentação ainda era
desconhecida: observadores eram, entâo, treinados a fazer uma distinção clara
entre os nomes de processos e sua experiência consciente, de modo a contornar
esse problema.
Esses estudos introspectivos levaram à
conclusão de que uma situação que parece requerer processos de escolha não
fornece elementos para se falar de uma resposta psicológica de escolha;
a discussão de tais respostas foi
substituída pela descrição dos sentimentos do sujeito durante o experimento. No
entanto, ninguém pôde dar qualquer evidência de que esses sentimentos tivessem
constituído parte integrante do processo particular de resposta.
Parece mais provável que eles sejam
somente um de seus componentes, e que eles mesmos necessitem de explicação.
Somos levados a concluir que a introspecçâo é, frequentemente, incapaz de
prover uma descrição acurada, não se preocupando com uma explicação correta,
mesmo em relação ao aspecto subjetivo da resposta. Pelas mesmas razões, seria
de se esperar as frequentes discrepâncias entre as descrições introspectivas de
vários observadores que, aliás, constituem um problema nessa área de pesquisa.
Deve ficar claro que a análise introspectiva não fornece a explicação dinâmica
ou causal real de um processo; para que isso ocorra, devemos deixar de
basear-nos nas aparências fenotípicas e mover-nos para um ponto de vista de
análise do desenvolvimento.
Texto proveniente da Seção Braille da Biblioteca Pública do Paraná, apenas reformatado.
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