Belém - Fome na casa do Pão

Trecho original do Comentário do Livro de Rute do escritor e Reverendo Hernandes Dias Lopes.

Houve  fome  de  pão  em  Belém,  a  Casa  do  Pão. 

Belém é  um  símbolo  da  igreja.  Muitas  vezes,  também,  falta  pão na  igreja,  e  as  pessoas  começam  a  passar  fome.  O  pão  que falta  na  igreja  não  é  aquele  feito  de  trigo,  mas  aquele  que procede  da  boca de  Deus.  E  a fome  desse  pão  do  céu  que  nos faz  buscar  a  Deus  com  todas  as  forças  da  nossa  alma. No  dia  em  que  a  nossa  fome  de  Deus  for  maior  do  que  a fome  por comida,  por dinheiro,  por fama e reconhecimento, então  poderemos  experimentar  as  maravilhas  de  Deus. No  entanto,  precisamos  também  tapar  os  ouvidos  ao clamor  pessimista  daqueles  que  nos  dizem  que  não  vamos conseguir,  que  a  crise  nos  vencerá  e  que  jamais  Deus  nos dará  pão  com  fartura. Quando falta  pão  na  Casa  do  Pão, as  pessoas  se desesperam O  livro  de  Rute  é  uma  história  de  amor  que  ensina ricas  lições  espirituais.

Tommy  Tenney,  em  seu  livro  Os caçadores  de  Deus,  faz  uma  profunda  e  pertinente  exposição do  capítulo  primeiro  de  Rute.  Ele  escreve  sobre  a  fome  que castigou  a  cidade  de  Belém  e  suas  implicações  para  a  igreja contemporânea.  Houve  um  tempo  em  que  o  nome  da cidade  de  Belém  era  apenas  uma  propaganda  enganosa,  uma promessa  vazia,  uma  negação  da  sua  realidade.

Houve  um dia  em  que  os  fornos  de  Belém  ficaram  frios  e  cobertos  de cinza,  e  as  prateleiras, vazias.  A  terra  tórrida  gemia  sob  o  calor inclemente  e  escaldante  do  sol.  A  chuva dadivosa  e  benfazeja foi  retida,  e  o  céu  fechou  suas  comportas.  A  semente  perecia sem  vida  no  ventre  da  terra.  Nos  pastos,  o  gado  mugia desassossegado  pela  fome.  Nos  currais,  não  havia  ovelhas. Nos  campos,  outrora  farturosos,  não  havia  frutos.  Nas  casas, não  havia  pão,  e  o  povo  começou  a  passar  fome.

Onde  há  fome,  há  inquietação.  Onde  a  fome  chega, reina  o  desespero.  A  fome  é  implacável.  Ela  abate  sem piedade  as  suas  vítimas. 

A  Casa  do  Pão  ficou  sem  pão. 

As pessoas  chegavam  de  todos  os  lados  à  procura  de  pão,  mas voltavam  de  mãos  vazias.  Suas  esperanças  eram  frustradas. Belém  tornou-se  um  lugar  de  inquietação  e  angústia,  e  não de  satisfação  e  plenitude. Belém,  um  retrato da  igreja a  casa  do  Pão,  vazia  de  pão,  é  um  retrato  da  igreja contemporânea. 

A  igreja  também  é  a  casa  do  pão.

As pessoas  estão  famintas.  Elas  têm  necessidades  não  do  pão que  perece,  mas  do  pão  da  vida./  O  próprio  Deus  é  quem coloca  essa  fome  em  nós:  “Eis  que  vêm  dias,  diz  o  Senhor Deus,  em  que  enviarei  fome  sobre  a  terra,  não  de  pão,  nem sede  de  água,  mas  de  ouvir  as  palavras  do  Senhor”  (Am 8.11).  Muitas  pessoas  buscam  saciar  sua  fome  espiritual na  igreja,  mas  não  encontram  nela  o  pão  da  vida.  Muitas pessoas  buscam  Deus  na  igreja,  mas  não  O  encontram  na igreja.  Encontram  muito  do  homem  e  pouco  de  Deus. Encontram  muito  ritual e  pouco  pão  espiritual.  Encontram muito  da  terra  e  pouco  do  céu. A  igreja  hoje  está  também  substituindo  o  pão  do  céu por outro  alimento.  Está  pregando  o  que  o  povo  quer  ouvir,  e não  o  que  o  povo  precisa  ouvir.

Prega-se  para  agradar,  e  não para  alimentar.  Dá-se  palha,  em  vez  de  trigo,  ao  povo  (Jr 23.28). Há  igrejas,  também,  que,  além  de  não  terem  pão,  estão vendendo  farelo  para  o  povo,  e  cobrando  caro  por  ele.  Há líderes  que,  além  de  adulterar  o  evangelho,  ainda  o  têm comercializado  e  mercadejado.  Na  ânsia  do  ter  mais  do que  na  busca  do  ser,  muitas  igrejas  estão  desengavetando  as indulgências  da  Idade  Média,  dando-lhes  novas  roupagens, mercadejando  a  graça  de  Deus  e  induzindo  o  povo  incauto ao  misticismo  mais  tosco. Contudo,  também,  há  igrejas  que  estão  dando  veneno, em  vez  de  pão,  ao  povo.  Estão  pregando  doutrinas  de homens,  e não  a  Palavra  de Deus.  Conduzem  o  povo  através de  sonhos,  visões  e  revelações,  em  vez  de  anunciar-lhe  a santa  Palavra  de  Deus.  Estão  dando  um  caldo  venenoso  ao povo  de  Deus,  em  vez  de  alimentá-lo  com  o  pão  do  céu.

Há  morte  na  panela,  e  não  alimento  saudável.  Há  muitas heresias  entrando  sorrateiramente  no  arraial  evangélico, dissimuladas  como  doutrinas  bíblicas.  As  multidões  são atraídas,  o  entusiasmo  do  povo  cresce,  mas  o  povo  está  se alimentando  de  palha,  em  vez  de  pão. Hoje,  muitas  pessoas  estão  famintas  de  outras  coisas,  e não  famintas  de  Deus.  Estão  atrás  das  bênçãos  de  Deus, e  não  do  Deus  das  bênçãos.  Querem  as  bênçãos,  e  não  o abençoador.  Querem  as  dádivas,  e  não  o  doador.  Querem agradar  a  si  mesmas,  e  não  a  Deus.  Querem  a  promoção pessoal,  e  não  a  glória  de  Deus.

Buscam  saúde  e  prosperidade,  e  não  santidade.

Correm  atrás  de  sucesso,  e  não  de piedade.  Têm  fome  de  Mamom,  e  não  de  maná. Outros  buscam  conhecer  a  respeito  de  Deus,  mas  não conhecem  a  Deus.  São  ortodoxos  de  cabeça,  mas  hereges  de conduta.  São  zelosos  da  doutrina,  mas  relaxados  com  a  vida. São  defensores  da  verdade,  mas  estão  secos  como  um  deserto e  duros  como  uma  pedra.

Buscam  conhecimento,  mas  não buscam  piedade.

Têm  fome  de  livro,  mas  não  fome  de  Deus. Têm  luz  na  mente,  mas  não  fogo  no  coração. Têm  a  cabeça cheia  de  conhecimento,  mas  o  coração  vazio  de  devoção.  O resultado  é  que  temos  igrejas  cheias  de  pessoas  vazias  de  Deus, e  igrejas  vazias  de  pessoas  cheias  de  Deus.  Essas  pessoas  têm fome  de  muita  coisa,  mas  não  do  Deus  vivo. Sim,  estamos  precisando  de  uma  geração  que  tenha fome  de  Deus.  Pior  do  que  a  fome  é  a  inapetência,  a  falta de  apetite.  Falta  de  apetite  é  doença,  e  a  doença  mata  mais rápido  do  que  a fome.  O  salmista  disse:  “A  minha  alma  tem sede  de  Deus,  do  Deus  vivo”  (SI  42.2).  Os  filhos  de  Coré diziam:  “[...]  o  meu  coração  e  a  minha  carne  exultam  pelo Deus  vivo”  (SI  84.2).  O  povo  de  Deus  anda  sem  apetite espiritual. As  coisas  de  Deus  parecem  não  empolgar  mais  os filhos  de  Deus.  Eles  olham  para  as  coisas  de  Deus  e  dizem: que  canseira  (Ml  1.13)!  Eles  não  têm  deleite  na  Palavra.

Eles  não  tremem  diante  da  Palavra.  Eles  não  têm  pressa para  orar.

As  reuniões  de  oração  estão  morrendo  nas  igrejas. O  povo  tem  tempo  para  reuniões  de  planejamento,  mas não  tem  tempo  para  orar.  O  povo  acha  tempo  para  o  lazer, mas  não  para  buscar  a  face  do  Senhor.  E  que  falta  fome  de Deus.  E  que  a  nossa  alma  não  está  impregnada  de  Deus nem apegada  a Ele.  Cantamos  que  Deus  é  o amado  da  nossa alma,  mas  não  conversamos  com  Ele,  não  ouvimos  a  Sua voz  nem  nos  deleitamos  nEle.  Cantamos  porque  gostamos de  cantar.  Celebramos  porque  isso  faz  bem  a  nós  mesmos, mas  não  o  fazemos  para  alegrar  o  coração  de  Deus  nem para  nos  deleitarmos  nEle.  Cultuamos  a  nós  mesmos,  em vez  de  cultuar  a  Deus.

A  fome  de  Deus  é  o  primeiro  passo  para  um  reavivamento  espiritual.

As  pessoas  vão  à  igreja,  mas  não  há  nelas expectativas  de  encontrar  a  Deus.  Elas  se  acostumam  com o  sagrado.  Elas  lidam  tanto  com  as  coisas  espirituais  que perdem  a  sensibilidade  com  o  sublime.  Elas  gostam  de  estar na  Casa  de  Deus,  mas  não  encontram  Deus  lá.  Elas  amam a  Casa  de  Deus,  mas  não  conhecem  na  intimidade  o  Deus da  Casa  de  Deus. Ter  fome  de  Deus  é  considerar  as  vantagens  do  mundo como  lixo  por  causa  da  sublimidade  do  conhecimento  de Cristo.  Ter  fome  de  Deus  é  não  se  contentar  com  o  farelo, com  a palha seca,  com  o  pão  embolorado. 

Você tem  fome  de Deus? 

Você  tem  ansiado  por  Deus  mais  do  que  os  guardas pelo  romper  da  manhã? 

Você  tem  clamado  como  Moisés: Oh,  Senhor,  eu  quero  ver  a tua  glória  (Êx  33.18)? 

Você  tem clamado  como  Eliseu:  “Peço  que  me  toque  por  herança porção  dobrada  do  teu  espírito”  (2Rs  2.9)?  Ou  será  que estamos  satisfeitos  com  a  nossa  vida  como  estava  a  igreja  de Laodicéia  (Ap  3.17)?

Sim,  a  maior  necessidade  da  igreja  não  é  de  coisas;  é  de Deus.  Não  é dos dons  de Deus;  é de Deus.  Não  é das  bênçãos de  Deus;  é  de  Deus.  A  nossa  mais  urgente  necessidade  é  da glória  de  Deus,  da  manifestação  do  Senhor  Todo poderoso em  nosso  meio.  Precisamos  desesperadamente  do  Pão  do Céu!

Reverendo Hernandes Dias Lopes.
Comentário do Livro de Rute, Fome de pão na casa do pão, pág, 55 a 61.

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