A Salvação. Russell N. Champlin

SALVAÇÃO Esboço:

》1. Salvação Segundo o Antigo Testamento
》2. Salvação no Novo Testamento
     • a. Nos Evangelhos Sinópticos
     • b. No Evangelho de João
     • c. No Livro de Atos
     • d. Nas Epístolas Paulinas
     • e. Nos Escritos de Pedro
》3. O Meio da Salvação
》4. A Salvação é um Processo Eterno e Infinito
》5. O Conceito da Filiação
》6. Elementos da Salvação
》7. A Realização da Salvação: Pontos de Vista Teológicos
》8. Salvação em Várias Religiões.

Nossa palavra "salvação" vem do latim "Salvare", que significa "salvar", e de "salus", que significa "saúde" ou "ajuda". A palavra hebraica traduzida em português por "salvação" indica segurança. O termo grego "soteria", e suas formas cognatas, tem a idéia de cura, recuperação, redenção, remédio, bem-estar e resgate. Essa palavra pode ser usada em conexões totalmente físicas e temporais, ou no quediz respeito ao bem-estar da alma, presente e eterna. A idéia de "salvar", quando usada para indicar a salvação espiritual, fala do livramento do pecado, da degradação moral e das penas que devem seguir-se,como o julgamento divino.

Mas o livramento também nos confere algo, a saber: o perdão, a justificação, a transformação moral e a vida eterna, que consiste na participação na própria vida de Deus, no seu "tipo" de vida. A discussão a seguir explica mais amplamente a natureza desse "livramento para alguma coisa", bem como desse "livramento de alguma coisa".

***1. Salvação Segundo o Antigo Testamento.

Embora a salvação com freqüência apareça ali apenas como algo no tempo, como da ira de algum inimigo ("o justo viverá porsua fé", em Hab. 2:4; fala da preservação física), há passagens, como Isaías 45: 17, Dan. 7: 13 ss. e Isaías 53, que entram no nível espiritual da salvação.   
》》》》Os rabinos, após o período patriarcal, criam na alma, no pós-vida, nos lugares celestiais. Mas, a salvação, nas páginas do Antigo Testamento, jamais tomou alguns aspectos revelados no Novo Testamento, especialmente no tocante à plenitude da filiação, em que os homens assumem a naturezado próprio Cristo, a fim de terem sua mesma glória e herança. Esse é um conceito que escapou a teologia dos judeus, e continua a ser ignorado e desconhecido na maioria das igrejas de hoje, onde a salvação é reduzida ao perdão dos pecados e à mudança de endereço para os céus, após a morte física.

***2. Salvação no Novo Testamento.

Até mesmo uma leitura superficial revelará que nem todos os autores do Novo Testamento têm o mesmo ponto de vista acerca dasalvação. Não obstante, seus pontos de vista são suplementares, e não contraditórios. A visão da plenitude da salvação é mais clara em alguns escritores sagrados do que em outros. a. Nos Evangelhos Sinópticos. A salvação vem por meio de Jesus (ver Luc. 19:9). Ele veio para salvar (ver Mar. 3:4; Luc. 4:18; Mar. 18:11; Luc. 9:56 e MaL 20:28). Sua missão impõe certa obrigação moral sobre os homens (Mar. 8:35; Luc. 7:50; 8:12; 13:24 e Mat. 10:22). A salvação requer um coração contrito, a receptividade como a de uma criança, a renúncia de tudo por causa de Cristo. Ela nos conduz à vida eterna, à salvação da alma (ver Mat. 7:13,14 e Mar. 8:34e ss.). Isso envolve a associação com Jesus em seu reino (ver Mat. 13; Mar. 8:38), que é visto como algo ao mesmo tempo celestial e terreno. Ver Mat. 3 2 e o artigo sobre a doutrina do Reino. Envolve a inquirição e a final possessão das perfeições morais (ver Mat. 5:48).

• a.
Nos evangelhos sinópticos, entretanto, nunca temos a descrição dos níveis mais altos da transformação segundo a imagem de Cristo, em que passamos a ser o que ele é e a possuir o que ele tem. O evangelho normalmente pregado nas igrejas evangélicas se eleva somente até o nível dos evangelhos sinópticos, o que deixa de lado especiais e maiores revelações, como aquelas dadas a Pedro e. mormente, a Paulo.

• b.
No Evangelho de João. Nesse evangelho temos um ponto de vista mais similar ao de Paulo do que aos dos evangelhos sinópticos. O princípio de filiação é associado à salvação, e isso é um discernimento penetrante. Fica subentendido que aquilo que é o Filho, nisso nos transformamos, pois também seremos autênticos filhos do Pai celeste. Somente no evangelho de João, de maneira mais clarae como descrição direta, é que temoso conceito da participação do homem na vida "necessária" e "independente" de Deus, o Pai. Há muitas "modalidades" de vida, a começar pelos animais unicelulares, passando por animais mais completos, do mar, da terra e dos ares. Finalmente. chegamos ao homem, o qual incorporaem si mesmo os aspectos físico e espiritual da vida, de maneira especial. As evidências mostram que todaa vida é dual, e talvez imortal; pelo menos toda e qualquer vida tem uma porção psíquica, que talvez seja o controle real do desenvolvimento físico. A fotografia Kirliana tem demonstrado o fato. Trata-se de um processo fotográfico, similarà radiologia. que fotografa a auraexistente ao redor de todas as coisas vivas, mostrando que todas as coisas possuem dualidade. Existem formas de vida que cobrem e possuem a parte física, e essas, evidentemente, são as inteligências que dirigem o desenvolvimento físico desde a concepção, mantendo a vida física. Não obstante, o homem, em alto grau, é uma incorporação da vida espiritual com a vida física. Além disso, há a vida puramente espiritual, dos seres celestiais. Mas a vida inteira, incluindo a desses últimos, é vidadependente, isto é, depende de Deus paraser sustentada. Toda avida, abaixo da vida de Deus, é vida "não-necessária". isto é, pode existir ou pode ser reduzída a nada, por ser vida potencialmente perecível. Mas Deus é o pináculo de toda a vida, sua fonte e sustentáculo. Já o "tipo" de vida de Deus é diferente. Ele é independente, dependendosomente dele mesmo para continuar a viver; e também é vida necessária. isto é, não pode deixar de existir. Sim, Deus tem vida "independente", porque depende somente de si mesmo para existir; e tem vida "necessária" porque essa forma de vida não pode deixar de existir. Foi esse o tipo de vida que o Filho recebeu por ocasiãode sua encarnação, na posição de Cabeça federal da raça remida. E, através dele, os remidos também recebem essa forma de vida. (Assim nos ensinam os trechos de João 5:25,26 e 6:57, umdos mais elevados conceitos de todo o NT). Os homens chegam a compartilhar dessa forma de vida. tornando-se muito mais elevados que os anjos e membros autênticos da família divina, possuidores da natureza divina (ver 11 Ped.1:4). Notemos que o elevadíssimo tipo de vida exposto no Evangelho de João fez parte integral da salvação, sendo mediado através da ressurreição.

• c.
No Livro de Atos. Neste ponto retornamos ao terreno dos evangelhos sinópticos, conforme se poderia antecipar do fato de que Lucas, seu autor, também é o autor do evangelho de Atos, um dos evangelhos sinópticos. O perdão dos pecados, o arrependimento, a conversão, a entrada no reino celestial, são elementos da salvação, mas não cobrem a revelação inteira, embora destaquem os conceitos primários da salvação, que são indispensáveis. Não pode haverglorificação sem o perdão dos pecados e o arrependimento. mas esses são apenas os passos iniciais da salvação. O Livro de Atos é essencialmente uma narrativa sobre como o evangelho de arrependimento se propagou entre todas as nações. (Ver Atos 2:38, 4:12 e 16:30 e ss.)

• d.
Nas Epístolas Paulinas. Neste ponto encontramos os conceitos mais elevados, os quais são enumerados neste parágrafo. i. Rom. 8:29: a salvação envolve nossa transformação segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, em que compartilharemos de sua natureza essencial. Efé, I:23: ser "salvo" significaria possuir, finalmente, a "plenitude de Cristo", que é tudo para todos; Efé. 3:19: ser "salvo" significa compartilhar finalmente de "toda a plenitude de Deus", em sua natureza, atributos e perfeições; iv. Col. 2:9, 10: ser "salvo" significa participar da plenitude da divindade, tal como o Filho dela participa; v. II Cor. 3:18: tudo isso é produzido pelas operações do Espírito, que nos amolda segundo a natureza moral de Cristo, e então segundo a sua natureza metafísica; vi. a filiação sumaria a obra: aquilo que o Filho é, isso seremos; aquiloque ele possui, nós possuiremos. Cristo é tanto o Caminho como é o Pioneiro do Caminho. Ele assumiu a natureza humana e, na qualidade de homem, foi espiritualizado para compartilhar da divindade, na qualidade de Deus-homem, um novo modode tal participação. É essa participação na divindade que foi aberta a todos os homens que nele confiam (ver Rorn. 8:17,29,30), tornando-os capacitados a receber sua herança, sua natureza, sua imagem e sua glorificação. ParaPaulo, pois, ser salvo é tornar-se aquilo que é o Filho de Deus, é compartilhar do que ele possuí. Esse é o mais elevado conceito que o homem conhece. Exige arrependimento e perdão de pecados, mas esses são apenas meios para atingirmos a glorificação.

• e.
Nos Escritos de Pedro. A passagem de II Ped. 1:4 encerra a declaração mais significativa. Mostra-nos que chegamos a participarda divindade, da naturezadivina, escapando da corrupção que há no mundo, para que as promessas de Deus se cumpram em nós.

***3. O Meio da Salvação.

Isso nos vem através do arrependimento, da fé, da conversão, enfim (ver Atos 2:38; Rom. 8:29,30 e João 3:15). O novo nascimento é parcialmente realizado agora, mas o total novo nascimento consiste em nascermos dentro do reino de Deus, já como seres celestiais. Portanto, ter por término a glorificação, quando nos tornarmos cidadãosdo novo mundo. A salvação nos vem pela graça divina (ver Efé. 2:8), mas é mediada pela "santificação" (ver II Tes. 2: 13). Ninguémjamaisveráa Deus se não for totalmente santo, como Deus é santo (ver Heb. 12:14 e Rom. 3:21). A imputação envolve muito mais do que a declaração forense de que somos perfeitos em Cristo. Significa que, através da santificação do Espírito. chegaremos realmente a possuir a natureza de Deus, em sua santidade e perfeições --em outras palavras, chegaremos realmente a possuir a verdadeira natureza de Deus, aquilo que a declaração forense meramentenos atribui. Ajustificação nos dá a santidade de Cristo por decreto forense; mas também garante e operaem nós a possessão real dela. (Ver o artigo sobre a Justificação. ) A salvação não vem através de obras legais, pois ninguém podetornar-se um ser semelhante a Cristo, que é o alvoda salvação. Contudo, envolvecertas obras, pois o Espírito Santo opera em nós e nos faz expressar os frutos da piedade, os seus próprios frutos, dos quais Cristo é o supremo possuidor (ver Gál. 5:22,23). Essa é a razão pela qual os homens são exortados a "levar a bom termo a sua própria salvação", conforme se lê em Fil. 2: 12. Nesse sentido, "graça" e "obras" se tornam sinônimas, pois a graça vem do Espírito, como também as obras. No entanto, as obras devem serreais e eficazes na vida, devendo ser cultivadas pela vontade humana; de outro modo, não haverá "operação da graça" no homem. A salvação, pois, consiste em trazer o infinito ao finito, o divino ao humano; e o homem precisa cooperarcom o Senhor, emborao próprio resultado seja divino em sua natureza. A salvação, pois, é uma cadeia de ouro. Consiste em arrependimento, fé, conversão, santificação, glorificação, que levam um homem à plena filiação. Se qualquer desses elos for quebrado, não haverá salvação. A salvação, pois, é "inicial", quando nos convertemos, pelo que também um homem pode dizer: "Estou salvo". Mas também tem um aspecto progressivo: estamos sendo salvos, porquanto estamos sendo preparados para o reino celestial. E a salvação também tem um aspecto final: a glorificação, quando obtivermos a natureza divina.

***4. A Salvação é um Processo.

Eterno e Infinito Posto que nela chegamos a possuir "toda a plenitude de Deus"(ver Efésios 3:19), isso significa que não pode haver fim na obrade salvação, pois Deus é infinito. A existência inteira nos mundo eternos, tal comoaqui, teráo propósito de participarmos daquilo que Deus é através do modelo de Cristo. Jamais poderemos participar completamente de tudo quanto Deus é, embora filhos autênticos junto com o Filho, dotados de sua natureza metafísica, pois não haverá como chegarmos ao fim da infinitude. Portanto, a diferença entre a natureza remida do homem e a natureza do Pai não consiste em "espécie", e sim, em "extensão" da glória. A salvação consiste em trazer o infinito ao que é finito, em trazero que é divino ao que é humano. Quanto a isso, não pode haver fim, e toda a eternidade nos ensinará o que esse preceito significa.

***5. O Conceito de Filiação.

O conceito de filiação sumaria a idéia da salvação, conforme aparece no Novo Testamento. Somos "filhos que estão sendo conduzidos à glória" (ver Heb. 2:10); compartilhamos da natureza do Filho (ver Rom, 8:29; II Cor. 3: 18 e I João 3:I,2). O indivíduo salvo é alguém que se tornou filho de Deus, de modo a compartilhar de tudo quanto o Filho possui, de ter a sua natureza essencial. O Cabeça e o corpo místíco devem possuira mesmo natureza, embora tenha diferentes oficiose funções. A glorificação do corpo deve ser a mesma glorificação desfrutada pelo Cabeça. Pode-se perceber facilmente, mediante essa descrição, porque a salvação, em sua natureza essencial, é chamada de "grande" em Heb. 2:3. Fala da "imensidão" do bem-estar espiritual que é conferido aos remidos, da imensidãoem queo homemé transformado, pois se torna mais elevado que os mais altos anjos, tal como o próprio Cristo é infinitamente superior a eles. Ver o artigo sobre o problema da Segurança do Crente. Gloriosa, mais gloriosa é a coroa Daquele que nos trouxe a salvação, Por humildade chamado de o Filho. Tu, que creste naquela estupenda verdade E agora o feito sem-igual foi realizado, DETERMINADO; OUSADO E FEITO. (Christopher Smart)

***6. Elementos da Salvação.

A salvação consiste no processo, no estado resultante e no progresso contínuo da alma, em sua inquirição para obter toda a plenitude de Deus (ver Efé. 3: 19), experimentando a transformação segundo a natureza e a imagem do Filho (ver Rorn. 8:29), que avança de um estágio a outro de glória, interminavelmente (ver II Cor. 3:18). A teologia tem dado nomes aos vários estágios desse processo, e oferecemos artigos separados sobre eles.
》》》》Ver Expiação; Arrependimento; Conversão; Justificação; Regeneração; Santificação e Glorificação. Ver também o artigo intitulado Divindade. Participação na, Pelos Homens.

****7. A Realização da Salvação.

Pontos de Vista Teológicos No artigo: Salvação em Várias Religiões, demonstro que há grande variedade de pontos de vista no tocante ao que a salvação se propõe a realizar. Também demonstro que em qualquer sistema religioso, incluindo o judaísmo e o cristianismo, a salvação é um conceito crescente. De fato, nem a Bíblia (no Antigo e no Novo Testamento) nos oferece somente um ponto de vista a respeito, visto tratar-se de um conceito complexo, que implica muitas facetas. Para exemplificar, a visão paulina da salvação é muito mais extensa e exaltada que a dos evangelhos sinópticos, Mas a mensagem de salvação, pregada nas igrejas cristãs de nossos dias, reflete a mensagem dos evangelhos sinópticos.
》》》》Apresentamos os vários níveis de pensamento a respeito sob o segundo ponto. Não é de surpreender, pois, que a teologia também encare a salvação de modos diversos. É possível alguém ler um dicionário bíblico, no verbete "Salvação", sem nada encontrar acerca da transformação do crente à imagem de Cristo ou acerca da participação na plenitude de Deus.O queali é abordado são temas como a fé, o arrependimento, a justificação e a glorificação, os quais, embora verdadeiros, estão longe de explorar toda a gamade facetas que Paulo expôs. Em outras palavras, alguns intérpretes não têm conseguido ver além da visão dos evangelhos sinópticos, As teologias cristãs tendem por apresentar "um ou outro" dos ângulos do Novo Testamento acerca da salvação, ao mesmo tempo que negligenciam aspectos desse mesmo documento sagrado que expõem outras idéias, as quais não somente acrescentam algo, mas também modificam pontos de vista muito drásticos. Por isso mesmo, as teologias via de regra são provinciais, e não representam, universalmente, os ensinamentosdo Novo Testamento. O que dizemos a seguir ilustra essa declaração: a. A Questão da Expiação. Ver o artigo geral intitulado Expiação. O Calvinismo limita a expiação somente aos eleitos, apesar do claro pronunciamento de IJoão 3:2, que foi escrito contra o Exclusivismo Gnóstico. Estes acreditavam que a grande maioria dos homens não pode ser remida, tal como o fazem os Calvinistas, embora por outros motivos. Assim, o intuito de Deusé limitadodesde o começo,e seu amoruniversal (verJoão3:16) é reduzido a uma farsa. O ponto de vista Arminiano, por sua parte, crê que o potencial para a salvação é universal, mas não tem fé na concretização desse potencial, para todos os propósitos práticos, pelo que não se mostra mais generoso acerca da missão de Cristo e de suas propostas realizações do que o Calvinismo. O Universalismo Irrestrito (ver a respeito) é extremamente generoso, fazendo a aplicação da missão de Cristo incidir sobre todos, sem supressão, de modo absoluto e final. Muitos cristãos têm assumido esse ponto de vista, e, nos tempos modernos, especialmente os estudiosos liberais...

8. Salvação em Várias Religiões.

Fonte: Enciclopédia Russell Norman Champlin
Livro Enciclopédia Russell Norman Champlin, pgs. 54, 55 e 56, ed. Hagnus.

Personagens: Calvinismo; Arminianismo;

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