A perda da realidade na neurose e na psicose – Freud. Volume XIX

Comentário Acadêmico do caso. Analogia das diferenças patológicas.

A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE
Freud, S., 1924

Na neurose o ego suprime uma parte do id devido a sua dependência da realidade que teoricamente seria mantida, o que nossa observação contradiz.

Na psicose o ego a serviço do id, afasta um fragmento da realidade (o incômodo) – há perda desta.

Neurose: na primeira etapa ego se dispõe à repressão de um impulso do id, na segunda etapa o fragmento de realidade ligada aquele este será modificado, como uma compensação, uma reação à repressão, ou uma falha desta.

Podemos fazer uma analogia com a psicose: na sua primeira etapa o ego seria arrastado para longe da realidade, e na segunda haveria uma reparação do dano, restabelecendo as relações com a realidade com o id, ou seja, é criada uma nova realidade que não envolva frustrações do id.
Nos dois casos percebemos a rebeldia, ou a incapacidade do id em aceitar, e se adaptar as exigências da realidade. Na neurose um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, ou seja, a realidade é ignorada, e na psicose ela é repudiada e substituída.

Nos dois casos o impulso reprimido deseja vir à consciência. Quando isto acontece na neurose há a geração de ansiedade, e ocorre uma conciliação, mas não uma satisfação completa.

Na psicose ocorrem alucinações e delírios para a transformação da realidade. Este processo é dinâmico, pois o indivíduo vai tendo novas percepções e recorrendo a percepções antigas que vão sendo modificadas e gerando ansiedade.
Em ambos a segunda etapa é mal sucedida, pois, na neurose a pulsão reprimida é incapaz de conseguir um substituto completo, e na psicose a representação da realidade não pode ser remodelada satisfatoriamente.

A neurose geralmente se contenta em evitar o fragmento de realidade, mesmo havendo o desejo de substituir uma realidade desagradável por outra, mais de acordo com seus desejos, o que é possibilitado pela existência de um mundo de fantasia, ligado a um passado real mais satisfatório (fantasia: domínio que ficou separado do mundo externo real na época de introdução do princípio da realidade, tornando-se uma reserva para libertar-se das exigências da vida, sendo frouxamente ligado ao ego). Esta fantasia, contudo, é como um brinquedo, ligado a um fragmento de realidade ao qual damos especial importância, é o que chamamos de simbólico.
Na psicose também recorre às fantasias, porém o delírio e as alucinações tomam o lugar da realidade.
Assim nas duas há perda da realidade, mas elas são diferenciadas pela maneira como esta é substituída.
Interpretação
Lygya Vanpré Humberg
Professora de Psicologia
Uninove - Barra Funda - SP

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